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INEZ MARIA DE OLIVEIRA
( BRASIL - MINAS GERAIS )
Nasceu em Bias Fortes, MG 28/05/1951.
Tem duas poesias publicadas “Notas Frias” e “Passando a Limpo”.
Foi técnica em Patologia Clínica, Professora, Costureira, Artesã, foi e é Dona de casa.
Sua paixão pela leitura começou aos seis anos quando aprendeu a ler, mas teve que reaprender aos sete anos quando ganhou do seu tio um livro da editora “Vozes” intitulado “Para os teus sete anos”, e não entendia quase nada do que lia, então, pegou um dicionário e enquanto lia o livrinho já olhava os sinônimos, aprendendo assim verdadeiramente a ler, e nunca mais parou.
Da biblioteca da escola, carregava para casa os livros que lhe permitiam carregar e com a constante luta do dia a dia, não teve tempo de se dedicar à poesia, mas sempre leu muito, mesmo antes de ler poesias de autores consagrados.
Amou e ama os apócrifos passados para ela pela sua avó que descendia de uma histórica cultural oral.
Depois de adulta, amava encontrar nos apócrifos, Hans Cristian Andersen, Irmãos Grimm, e obras como “As mil e Uma Noites”, se muitos outros autores, sendo todos os contos e histórias contadas por sua avó. Assim, ela segue à procura de histórias perdidas no tempo...
inezmariadeoliveira4@gmail.com
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Êxodo
Na roça tem morro, várzea, céu azul ou estrelado tanto faz.
Tem passarinho, sapo verde, leite, horte, vida... Estrada poeirenta
ou barreada boa de por os pés no chão e pisar...
Cobra quando pica o Dr. Ranulfo cura e quando se morre é de
morte natural; morte de briga ou afogado.
Os velórios são bonitos com café, quitutes e cachaça.
Na roça o povo é Deus, se conhece se cura...
Na cidade morre-se de edifícios, de beber, de escolas, de prisões,
de assaltos, de hospitais, de trabalho, de raiva, de fumaça, de
asfalto... Muitas vezes nem enterro o defunto tem.
Na roça tem coronel e lobisomem... Não dá para ficar lá.
Na cidade tem Deus, polícia e super-homem... Dá pra se enganar...
Inexpressão
Poucas vezes tentei ser normal, usando batons, esmalte, me
produzi, me empolguei, me olhei no espelho e não me vi;
Trabalhei muito tentando ser normal, usei uniformes vesti
profissões calcei sapatos de segunda mão, sobrevivi, me olhei no
espelho e não me vi;
Quis ser esposa acreditando ser normal, cozinhei, lavei, passei,
ralei a alma. Virei a casa arranquei o telhado e o chão, me olhei
no espelho e não me vi;
Quis ser esposa acreditando ser normal, cozinhei, lavei, passei,
ralei a alma. Virei a casa arranquei o telhado e o chão, me olhei
no espelho e não me vi;
Fui mãe, acreditei ser vocação — missão amamentei, acompanhei,
cuidei, amei e amei... me colocaram de frente pro espelho;
Vi o passado — tempo das tempestades, frio e calor. Mesmo assim
não me vi dento deles...
Vi milhares de estações deslizando pelo espelho como num filme
sem fim, descobri que a mim pertence mais o tempo que
vejo e vivo aqui.
Não quero mais saber de espelhos — abro as janelas e portas, vejo
flores, ouço barulho, e vozes, saio então tentando viver quase
tudo o quer não vivi por não saber de mim.
Perambulo nua, desnuda de tudo que já vesti a sentir o cheiro
do que semeei e plantei vibrantes verdes, coloridos, que nunca
pensei ver.
E sem espelhos e seus reflexos vejo apenas minhas mãos.
Agradeço então ao cosmos, anjos, santos se Deus, por nunca ter
tido um rosto bastou ter mãos e coração.
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Página publicada em dezembro de 2025.
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